Era uma manhã fria, como as outras. Eu acordei em plenas 9h da madrugada com uns gritos, umas pessoas com tom de desespero, uma espécie de medo apocalíptico.
-Será que estou sonhando? Disse eu.
Não, não estava sonhando. Levantei e abri a porta para ver o que houve, conversar com alguém, sei lá... Mas ao abrir a porta vi algo estranho no céu que me tirou o foco das pessoas e lançou meus olhos ao alto: um rastro imenso de fumaça no céu deixou-me a espinha mais gelada que a neve ao redor da minha casa. Valha-me, Deus! Será o fim do mundo? Peguei minha câmera para comprovar aos outros que não estaria mentindo quando contasse a história. Peguei tão rápido que nem lembrei que estava descalço, na verdade eu não estava sentindo meu corpo direito. Comecei a filmar: uma câmera pequena, um medo grande, um rastro de fumaça imenso e um ponto de interrogação gigantesco. Pensei comigo:
--Se eu escapar dessa, esse vídeo vai “bombar”. Deixa de besteira! Começa a orar, garoto!
Assim fiz. Mal comecei a dizer: “Pai nosso”... Booooooooommmm!!! Um estrondo quase estoura meus tímpanos, o maior barulho e mais assustador que ouvi. Era o som do meteorito que chegava a nós muito depois de ter passado por cima da minha casa. Os cientistas irão dizer que foi o rompimento da barreira do som. Eu digo que foi o rompimento do resto de coragem que eu tinha em mim. Tudo que era vidro se despedaçando, pessoas gritando, carros alarmando e eu paralisado. Assim foi esse dia 15 de Fevereiro de 2013 em Chelyabinsk. Graças a Deus escapei inteiro disso, espero que quando vier outro (que Deus livre de isso acontecer), que seja bem longe daqui. Mas isso foi um aviso: Nós somos suscetíveis a muitas coisas e toda a nossa ciência e tecnologia talvez não sirva de nada um dia...
Charles Alves
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domingo, 26 de junho de 2016
terça-feira, 21 de junho de 2016
domingo, 19 de junho de 2016
IRACEMA: A IDENTIDADE FEMININA NA LITERATURA E NA REALIDADE
O
presente ensaio irá abordar a temática da representação social, mais
especificamente da mulher, na obra Iracema, de José de Alencar. Será visto que
a imagem da mulher será representada por Iracema, com toda a sua obediência,
submissão e inferioridade frente ao seu amado, Martim. Esse último,
representando o homem, o gênero masculino, sempre com superioridade, dando ordens
à Iracema, sendo rude com ela; constitui o modelo de homem adotado por Alencar
e replicado até os dias de hoje na sociedade.
Já
nas primeiras cenas do enredo, quando Iracema avista Martim na floresta, nas proximidades
da tribo da índia, a tribo dos tabajaras, Iracema demonstra sua inferioridade
em relação à Martim. A índia, sem prévias, acertou uma flechada no português
que causou sangramento. O português não reagiu, pelo contrário, ficou sorrindo.
A índia então se sentiu mal por tê-lo atingido, retirou a flecha e a quebrou.
Ambos começaram a conversar. Note-se o seguinte: porque Martim sorriu, se
estava sendo atacado? Porque Iracema se sentiu culpada, já que estava
defendendo sua nação? Ora, Martim riu porque era apenas uma MULHER que o estava
atacando, para ele, não apresentava ameaça nenhuma, haja vista que ele a
julgava frágil, sensível. E ele julgou correto. A índia logo retirar a flecha e
cuidar dele.
Essa
ainda é a visão de grande parte das pessoas. Quando uma mulher está fazendo
determinada função que julgam ser “de homem”, a mulher é tida como subestimada
e taxada de incompetente de realizar. Um exemplo: Dirigir. Convencionou-se que
a mulher não sabe dirigir, que vai estar sempre batendo em algo ou alguém e que
homem é que sabe dirigir. Esse é mais um paradigma a ser quebrado, já que homens
e mulheres podem, sim, dirigir bem.
Após
se mostrar insegura, Iracema, imediatamente, veste seu traje simbólico de
escrava de Martim e começa a trabalhar para agradá-lo sempre. Primeiro,
levando-o para a casa de seu pai sem ao menos conhecer o português
efetivamente. Trouxe comida para Martim, lavou suas mãos e fez todos os
preparativos para sua estadia enquanto o desconhecido conversava com o pai da
Índia, o Pajé Araquém. Isso retrata o papel da dona-de-casa conhecido por todos.
Ele conversando com outro homem, ela limpando, preparando comida, fazendo papel
de escrava. Isso também é figurado em Clarice Lispector:
Acordou com o dia
atrasado, as batatas por descascar, os miúdos que voltariam à tarde das titias,
ai que até me faltei ao respeito!, dia de lavar roupa e cerzir as peúgas, ai
que vagabunda que me saíste!, censurou-se curiosa e satisfeita, ir às compras,
não esquecer o peixe, o dia atrasado, a manhã pressurosa de sol. (LISPECTOR,
1988, p. 12).
O
texto de Clarice retrata os afazeres de uma dona-de-casa, que tem inúmeras
coisas para fazer e no final, muitas vezes, ainda é taxada de não fazer nada,
pois só fica “dentro de casa”. De onde veio essa idéia de que a mulher tem que
ficar em casa cuidando da casa e dos filhos ao passo que o homem tem que sair e
trabalhar? Vem desde o início das organizações sociais, quando o a mulher, por
ficar grávida, não poderia sair para caçar, então ela ficava ajudando nos
trabalhos domésticos. Será que isso deve ser eterno? Não. Se a mulher quiser
sair para trabalhar ou fazer outra coisa, ela pode sim sair. Hoje, já vemos uma
grande evolução nesse aspecto. As mulheres trabalham e mantêm perfil de
liberdade próximo ao homem. Diz-se aqui, “próximo” porque ainda em pleno século
XXI existem mulheres proibidas de trabalhar e estudar pelos maridos. Há
esperança que isso um dia mude, mas ainda é fato.
Como
se não bastasse o papel de escrava, mais à frente, na narrativa, Iracema
demonstra toda a sua insegurança ao pensar que Martim falou com ela como se ela
fosse um verme (Ela se sentiu um verme). Em nenhum momento o português a chamou
de verme; ela é que se sentia um verme frente a ele. E ele, preocupado com a
morte dela, foi interpretado por Iracema como se estivesse pensando em outra
mulher. Sem motivo algum, Iracema desconfia até do pensamento de Martim:
Iracema achegou-se
então do mancebo; levava os lábios em riso, os olhos em júbilo:
— O coração de
Iracema está como o abati n’água do rio. Ninguém fará mal ao guerreiro branco
na cabana de Araquém.
— Arreda-te do
inimigo, virgem dos tabajaras, respondeu o estrangeiro com aspereza de voz.
Voltando brusco
para o lado oposto, furtou o semblante aos olhos ternos e queixosos da virgem.
— Que fez Iracema,
para que o guerreiro branco desvie seus olhos dela, como se fora o verme da
terra?
As falas da virgem
ressoaram docemente no coração de Martim. Assim ressoam os murmúrios da aragem
nas frondes da palmeira. O mancebo sentiu raiva de si, e pena dela:
— Não ouves tu,
virgem formosa? exclamou ele apontando para o antro fremente.
— É a voz de Tupã!
— Teu deus falou
pela boca do pajé: “Se a virgem de Tupã abandonar ao estrangeiro a flor de seu
corpo, ele morrerá!...”
Iracema pendeu a
fronte abatida:
— Não é voz de Tupã
que ouve teu coração, guerreiro de longes terras, é o canto da virgem branca,
que te chama!
O rumor estranho
que saía das profundezas da terra apagou-se de repente: fez-se na cabana tão
grande silêncio que ouvia-se pulsar o sangue na artéria do guerreiro, e tremer
o suspiro no lábio da virgem. (ALENCAR, 2012, p. 37).
Pode-se
contemplar no fragmento acima exposto que Iracema se sente inferior a Martim.
E, mesmo ela se oferecendo para ajudar o português, ele fala asperamente à
índia que não revida; apenas se sente um verme. Após isso, Martim sente PENA
dela. É interessante notar também que Martim, para protege a índia, se
disponibiliza a abdicar seu amor para que ela não morra, já que ele acreditava
que “Se a virgem abandonar a flor de seu corpo ao estrangeiro ela morrerá”.
Iracema, ao invés de pensar assim, assume o estereótipo da mulher traída, pensa
sempre que o marido tem outra, que está pensando em outra, que quer fugir com
outra. No caso do casal, ela julga que Martim quer renega seu relacionamento
com a índia não porque ele quer protegê-la, mas porque ele quer se ver livre
dela para ir ficar com sua “verdadeira amada”.
Alguma
semelhança com a realidade? Sim, muita semelhança com a realidade. A sociedade
criou uma imagem de homem e mulher na qual o homem que tem relação fora da
oficial é o “pegador”, o maioral, “é coisa de homem mesmo”; ele é tido como
positivo, como se isso fosse normal. Já a mulher que mantém relação fora da
oficial é taxada de “vagabunda”, prostituta, galinha (O termo galinha soa
positivamente para o homem: pegador, namorador, macho; para a mulher soa
negativamente: prostituta, imunda, impura), além de outros termos pejorativos
que tem uma vastidão considerável. Devido a essa imagem, a mulher sempre assume
o papel de traída frente ao homem. Muitas aceitam isso e sofrem caladas.
No
capítulo XV vê-se claramente a submissão de
Iracema a Martim, pois após terem tido relações sexuais, a índia estava
beijando o amado de manhã (nada estranho), mas ele, ao acordar, se afastou dela
bruscamente e proferindo palavras rudes a repudiou. Ela, calada estava calada
ficou e foi embora:
A juruti, que
divaga pela floresta, ouve o terno arrulho do companheiro; bate as asas, e voa
para conchegar-se ao tépido ninho. Assim a virgem do sertão, aninhou-se nos
braços do guerreiro.
Quando veio a
manhã, ainda achou Iracema ali debruçada, qual borboleta que dormiu no seio do
formoso cacto.
Em seu lindo semblante
acendia o pejo vivos rubores; e como entre os arrebóis da manhã cintila o
primeiro raio do
Sol, em suas faces
incendidas rutilava o primeiro sorriso da esposa, aurora de fruído amor.
Martim vendo a
virgem unida ao seu coração, cuidou que o sonho continuava; cerrou os olhos
para torná-los a abrir.
A pocema dos
guerreiros, troando pelo vale, o arrancou ao doce engano: sentiu que já não
sonhava, mas vivia.
Sua mão cruel
abafou nos lábios da virgem o beijo que ali se espanejava.
— Os beijos de
Iracema são doces no sonho; o guerreiro branco encheu deles sua alma. Na vida,
os lábios da virgem de Tupã, amargam e doem como o espinho da jurema.
A filha de Araquém
escondeu no coração a sua alegria. Ficou tímida e inquieta, como a ave que
pressente a borrasca no horizonte. Afastou-se rápida, e partiu. (ALENCAR, 2012,
p. 48).
Após
ter entregado sua virgindade ao português ela ficou muito ligada a ele, mas
recebeu repúdio como recompensa. Assim como Iracema recebeu o golpe sentimental
de Martim na alma e ficou quieta, muitas mulheres ainda sofrem maus tratos,
mesmo depois da instauração da Lei Maria da Penha (Lei essa que foi criada em
homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes que
ficou paraplégica após diversos ataques de seu marido (poder-se-ia substituir o
termo marido por monstro aqui, facilmente). Após o ocorrido, a lei acordou para
a violência doméstica, mas muitas domésticas ainda não acordaram para a Lei,
pois segundo o site Compromisso e atitude (2015): “Pesquisa da Secretaria de
Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça revela que 80% das mulheres
agredidas não querem que o autor da violência seja punido com prisão.”. Um
número preocupante prova de que o Brasil ainda precisa melhorar muito.
No
capítulo XXVI vê-se a ordem do marido e a obediência da mulher. Martim parte
para o combate e deixa Iracema abandonada em uma cabana (essa ação seria a
responsável por matar a índia). Não foi suficiente tê-la roubado de seu povo.
Ele ainda foi capaz de abandoná-la por longo período:
Fincou o guerreiro
no chão a flecha, com a presa atravessada, e tornou para Coatiabo:
— Tu podes partir
agora. Iracema seguirá teu rastro; chegando aqui, verá tua seta, e obedecerá à
tua vontade.
Martim sorriu; e
quebrando um ramo do maracujá, a flor da lembrança, o entrelaçou na haste da
seta, e partiu enfim seguido por Poti.
Breve desapareceram
os dois guerreiros entre as árvores. O calor do Sol já tinha secado seus passos
na beira do lago. Iracema inquieta veio pela várzea seguindo o rastro do esposo
até o tabuleiro. As sombras doces vestiam os campos quando ela chegou à beira
do lago.
Seus olhos viram a
seta do esposo fincada no chão, o goiamum trespassado, o ramo partido, e
encheram-se de pranto.
— Ele manda que
Iracema ande para trás, como o goiamum, e guarde sua lembrança, como o maracujá
guarda sua flor todo o tempo, até morrer.
A filha dos
tabajaras retraiu os passos lentamente, sem volver o corpo, nem tirar os olhos
da seta de seu esposo, e tornou à cabana. Aí sentada à soleira, com a fronte
nos joelhos esperou, até que o sono acalentou a dor em seu peito.
Apenas alvorou o
dia, ela moveu o passo rápido a lagoa, e chegou à margem. A flecha lá estava
como na véspera: o esposo não tinha voltado.
Desde então à hora
do banho, em vez de buscar a lagoa da beleza, onde outrora tanto gostara de
nadar, caminhava para aquela, que vira seu esposo abandoná-la. Sentava junto à
flecha, até que descia a noite; então se recolhia à cabana. (ALENCAR, 2012, p. 75)
Iracema
não tinha obrigação de ficar e obedecer A Martim, mas o fez. A solidão foi sua
companheira, juntamente com a tristeza por um grande período. Devido a isso, já
grávida, ela ficou cada vez mais fraca. A tristeza enchia-lhe a alma e sua vida
se desfazia. Há algo similar na realidade? Com certeza, sim. Em muitos casos, a
mulher é retirada da família pelo marido e fica presa dentro de casa enquanto o
marido vai para as festas e farras deixando a mulher em casa abandonada na
solidão e, como uma escrava, ela tem que deixar as coisas arrumadas, cuidar dos
filhos enquanto o “chefe da família” está gastando o dinheiro de casa, bebendo
(às vezes traindo a esposa) e quando chega a casa, insatisfeito, ainda bate na
mulher e nos filhos. Isso ainda acontece hoje em dia e muitas Iracemas
infelizes estão camufladas em casamentos frustrados. Isso tem que mudar, mas
muitas parecem não ter forças.
Por
último no capítulo XXII Martim, após sua jornada nas batalhas, volta para casa
como se nada tivesse acontecido, não pede desculpas nem se explica, apenas vem
ver como está sua “escrava” está cuidando do seu filho. Porém já é tarde
demais:
O cristão moveu o
passo vacilante. De repente, entre os ramos das árvores, seus olhos viram
sentada à porta da cabana, Iracema com o filho no regaço e o cão a brincar. Seu
coração o arrastou de um ímpeto, e toda a alma lhe estalou nos lábios:
— Iracema!...
A triste esposa e
mãe soabriu os olhos, ouvindo a voz amada. Com esforço grande, pôde erguer o
filho nos braços e apresentá-lo ao pai, que o olhava extático em seu amor.
— Recebe o filho de
teu sangue. Chegastes a tempo; meus seios ingratos já não tinham alimento para
dar-lhe!
Pousando a criança
nos braços paternos, a desventurada mãe desfaleceu como a jetica se lhe
arrancam o bulbo.
O esposo viu então
como a dor tinha murchado seu belo corpo; mas a formosura ainda morava nela,
como o perfume na flor caída do manacá.
Iracema não se
ergueu mais da rede onde a pousaram os aflitos braços de Martim. O terno
esposo, em que o amor renascera com o júbilo paterno, a cercou de carícias que
encheram sua alma de alegria, mas não a puderam tornar à vida: o estame de sua
flor se rompera.
— Enterra o corpo
de tua esposa ao pé do coqueiro que tu amaste. Quando o vento do mar soprar nas
folhas,
Iracema pensará que
é tua voz que fala entre seus cabelos.
O lábio emudeceu
para sempre; o último lampejo despediu-se dos olhos baços. (ALENCAR, 2012, p. 90)
Note-se
que Iracema nem ao menos ficou brava com tal situação. Ela, como uma empregada,
apenas mostra seu trabalho ao patrão. No caso, ela entrega o filho de Martim a
ele. Há muitas Iracemas no Brasil, maltratadas e sofrendo caladas, vivendo um
inferno privado, em casa.
Em
suma, percebe-se que a figura de Iracema é muito mais real do que parece. É a
representação social de inúmeras mulheres que, assim como ela, sofrem mais não
falam. Brigam com suas famílias, fazem trabalhos domésticos como escravas e sem
serem reconhecidas, ficam abandonadas e subjugadas em casa. Muitas delas ainda
recebem como pagamento agressão verbal e até física.
Surge
aqui a necessidade de nascer uma nova Iracema no Brasil, uma mulher que encare
a realidade com segurança, que se for agredida coloque o agressor no seu lugar
(a cadeia), que não siga os padrões impostos pela sociedade, mas que crie seus
próprios padrões valorosos e que seja dado o devido valor a ela pela sociedade.
E à sociedade, cabe o desenvolvimento ideológico no sentido de aceitar a
igualdade ente os homens e as mulheres no caráter, potencial, capacidade
intelectual e cidadania. Quando essas coisas saírem do papel e estiverem
acontecendo na prática, mulheres e homens viverão de forma mais harmoniosa e
feliz.
REFERÊNCIAS
LISPECTOR, Clarice.
Devaneio e embriaguez de uma rapariga. In.: Laços
de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Lafonte, 2012.
Compromisso e Atitude. Violência doméstica: 80% das mulheres não
querem a prisão do agressor (Último Segundo – 03/05/2015). Disponível em <http://www.compromissoeatitude.org.br/violencia-domestica-80-das-mulheres-nao-querem-a-prisao-do-agressor-ultimo-segundo-03052015/>.
Acesso em: 04 mai. 2015.
ANÁLISE LITERÁRIA DA OBRA ELECTRA DE EURÍPEDES
No
presente ensaio iremos analisar a obra Eléctra
de Eurípedes do ponto de vista da classificação e características literárias.
Trata-se de uma tragédia na qual uma princesa e um príncipe vão em busca de
retomar seus lugares no palácio real. Trataremos das características da
tragédia na obra: O nó, o Desenlace, o Coro, a Hybris e o Sparagmos, a ação, a
catarse, a transgressão da filia, a peripécia, e a anagnórisis.
Nas
palavras de Aristóteles (2003): “O nó consiste muitas vezes em fatos alheios ao
assunto e em alguns que lhe são inerentes; o que vem a seguir é o desenlace.
Dou o nome de nó à parte da tragédia que vai desde o início até ao ponto a
partir do qual se produz a mudança para uma sorte ditosa ou desditosa;[...]” No
caso da obra Electra, o nó vai desde os acontecimentos primários da peça até o
momento em que Orestes encontra sua irmã Eléctra, a partir daí já começa a
expor a sorte dos personagem da narrativa.
O
desenlace é relatado por Aristóteles (2003): “[...] chamo desenlace à parte que
vai desde o princípio desta mudança até ao final da peça.” O desenlace, na Obra,
vai desde o momento que em Orestes encontra sua irmã até o final da peça, quando
Orestes dá seu amigo Pílades em casamento a Electra, após a morte de
Clitemnestra, e vai para Atenas sob orientação dos Dióscuros.
O
coro deve ser considerado como um dos atores, geralmente era composto por 15
pessoas nas peças de tragédia grega. No caso de Eléctra, o coro se faz presente
e conhece os personagens, dá opiniões e análise dos fatos.
A
tragédia sempre ocorre com narrativas de pessoas superiores. Entenda-se pessoas
superiores como as pessoas mais influentes na sociedade no contexto da
história, por exemplo: Reis, príncipes, líderes sociais. Essa superioridade,
além de social, também deve ser moral. Os heróis da tragédia são pessoas de boa
índole, cortezes, amáveis. Na obra Electra, os heróis são príncipes, Orestes e
Electra, que configuram pessoas superiores. As pessoas superiores não precisam
ser inatingíveis, inigualáveis, são pessoas sujeitas à mesma sorte de uma
pessoa comum.
A
Ação da tragédia deve contar apenas um episódio, que se encaminha para o seu
fim com tensão, uma boa tragédia não deve ultrapassar mais que uma revolução
solar, no máximo duas. Isso é necessário para manter a tensão e atenção do
expectador ou leitor à tragédia. Na obra Electra a ação ocorre dentro dos
padrões Aristotélicos, na qual a ação é que a morte do Rei Agamêmnon seja
vingada. Percebe-se que a obra de Eurípedes segue a linha de raciocínio adotada
por Aristóteles.
Para
Aristóteles, o objetivo da tragédia é gerar catarse através da pena e do temor.
A Catarse é a purificação dos sentimentos; ao contemplar uma tragédia, o leitor
vive o que o personagem está vivendo no momento, geralmente vive sentimentos
que não viveria Na tragédia Eléctra percebemos a catarse, por exemplo quando
vemos a situação que a mãe de Electra impõe sobre a filha, fazendo-a casar à
força com alguém que não amava e morando na miséria longe de seu irmão Orestes,
além disso o príncipe foi banido de sua casa paterna e entregue a um amigo de
seu pai. Nesses fatos surge no leitor o sentimento de pena relativo à catarse.
Percebemos também o temor ao se deparar primeiro com a matança de Egistro que
surrupiou o trono de Agamêmnon e depois com a matança de Clitemnestra, mãe de
Orestes e Electra, a mãe morta pelos próprios filhos. O temor existe, pois,
como os personagens são semelhantes a quem está apreciando a trama,
subentende-se que não é impossível que ocorra o mesmo ao expectador, caso
trilhe nos mesmos rumos dos heróis apreciados.
A
tragédia deve conter também a Transgressão da filia, item que está presente na
Obra. Esse fenômeno se dá quando o personagem mata uma pessoa da qual possui
laços sanguíneos, seja irmão, mãe, tio ou outro grau de parentesco
consanguíneo. Orestes e Electra transgridem a filia ao matarem Clitemnestra,
mãe deles. Segundo a mitologia grega, se uma pessoa mata a outra, seu sangue
deve ser vingado, caso contrário o homicida irá ser perseguido pelos deuses da
justiça.
A
Peripécia, outro componente da tragédia, se dá quando o rumo da Narrativa é
alterado. Na obra, o planejamento de Orestes e Electra de matar a Clitemnestra foi
de uma forma, quando foram cometer o ato, tiveram que mudar os meios para poder
chegar ao objetivo, somente Orestes iria matá-la. Acabou os dois irmão matando
a mãe juntos.
A
hybris se dá quando o herói ultrapassa a barreira do métron, a medida estabelecida
pelos Deuses aos homens. É a quebra ou o pecado do herói. Na Obra Electra, a
hybris se estabelece no assassinato de Clitemnestra por Electra e Orestes. Um
matricídio cometido pelos dois para vingar a morte de Agamênon. Com o efeito da
hybris, o herói se torna inferior aos humanos normais. Após isso, vem o
sparagmos que é a conseqüência do pecado cometido. O herói sofre a conseqüência
de seus atos. No caso de Electra, o sparagmos de Orestes foi fugir e procurar
misericórdia para seu crime. Electra teve como castigo ter que se casar com Pílades
além do remorso.
A
anagnórisis é o reconhecimento. O herói reconhece sua falha, seu pecado e tende
a se arrepender. Orestes e Electra reconheceram que não foi certo derramar o
sangue de Clitemnstra. Antes da matança o ódio os cegou. Após a frieza dos
ânimos, reconheceram que praticaram uma desgraça.
Reconhecemos
também que a tragédia é uma parte da Epopéia. São pequenos fragmentos que usam
o mito para dramatizar uma pequena parte de uma grande narrativa. São pequenos
episódios nos quais não faltam superstições da cultura de um povo. A tragédia
está para a Epopéia assim como a foto está para o cinema.
Nota-se
que Eurípedes não lança mão de personagens divinos em suas peças, mas usa muito
os sentimentos humanos para compor suas obras. Na obra Electra, por
exemplo, nenhum Deus intervém para
alterar o rumo da narrativa, são os próprios homens que cometem ações boas ou
ruins e colhem os frutos de suas escolhas.
Em
suma, a obra nos transmite temor e medo (sentimentos inerentes à catarse). Nela
também podemos contemplar a beleza dos mitos gregos sendo contados e recontados
através dos tempos. Mitos esses que se mantém até hoje vivos no nosso
dia-a-dia. As fúrias representam nossa consciência nos martirizando, nos
inquietando a pedir perdão e a expiar a culpa. O coro representa a opinião da
sociedade, suas críticas, suas sugestões. Um herói necessita pagar o preço de
sua condição, sem o qual não é considerado herói. Para ser grandioso, é mister
se sobressair em momentos difíceis.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. A Arte Poética. São Paulo: Martim
Claret, 2011.
EURÍPEDES. Eléctra. eBooksBrasil: 2005
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