No
presente ensaio iremos analisar a obra Eléctra
de Eurípedes do ponto de vista da classificação e características literárias.
Trata-se de uma tragédia na qual uma princesa e um príncipe vão em busca de
retomar seus lugares no palácio real. Trataremos das características da
tragédia na obra: O nó, o Desenlace, o Coro, a Hybris e o Sparagmos, a ação, a
catarse, a transgressão da filia, a peripécia, e a anagnórisis.
Nas
palavras de Aristóteles (2003): “O nó consiste muitas vezes em fatos alheios ao
assunto e em alguns que lhe são inerentes; o que vem a seguir é o desenlace.
Dou o nome de nó à parte da tragédia que vai desde o início até ao ponto a
partir do qual se produz a mudança para uma sorte ditosa ou desditosa;[...]” No
caso da obra Electra, o nó vai desde os acontecimentos primários da peça até o
momento em que Orestes encontra sua irmã Eléctra, a partir daí já começa a
expor a sorte dos personagem da narrativa.
O
desenlace é relatado por Aristóteles (2003): “[...] chamo desenlace à parte que
vai desde o princípio desta mudança até ao final da peça.” O desenlace, na Obra,
vai desde o momento que em Orestes encontra sua irmã até o final da peça, quando
Orestes dá seu amigo Pílades em casamento a Electra, após a morte de
Clitemnestra, e vai para Atenas sob orientação dos Dióscuros.
O
coro deve ser considerado como um dos atores, geralmente era composto por 15
pessoas nas peças de tragédia grega. No caso de Eléctra, o coro se faz presente
e conhece os personagens, dá opiniões e análise dos fatos.
A
tragédia sempre ocorre com narrativas de pessoas superiores. Entenda-se pessoas
superiores como as pessoas mais influentes na sociedade no contexto da
história, por exemplo: Reis, príncipes, líderes sociais. Essa superioridade,
além de social, também deve ser moral. Os heróis da tragédia são pessoas de boa
índole, cortezes, amáveis. Na obra Electra, os heróis são príncipes, Orestes e
Electra, que configuram pessoas superiores. As pessoas superiores não precisam
ser inatingíveis, inigualáveis, são pessoas sujeitas à mesma sorte de uma
pessoa comum.
A
Ação da tragédia deve contar apenas um episódio, que se encaminha para o seu
fim com tensão, uma boa tragédia não deve ultrapassar mais que uma revolução
solar, no máximo duas. Isso é necessário para manter a tensão e atenção do
expectador ou leitor à tragédia. Na obra Electra a ação ocorre dentro dos
padrões Aristotélicos, na qual a ação é que a morte do Rei Agamêmnon seja
vingada. Percebe-se que a obra de Eurípedes segue a linha de raciocínio adotada
por Aristóteles.
Para
Aristóteles, o objetivo da tragédia é gerar catarse através da pena e do temor.
A Catarse é a purificação dos sentimentos; ao contemplar uma tragédia, o leitor
vive o que o personagem está vivendo no momento, geralmente vive sentimentos
que não viveria Na tragédia Eléctra percebemos a catarse, por exemplo quando
vemos a situação que a mãe de Electra impõe sobre a filha, fazendo-a casar à
força com alguém que não amava e morando na miséria longe de seu irmão Orestes,
além disso o príncipe foi banido de sua casa paterna e entregue a um amigo de
seu pai. Nesses fatos surge no leitor o sentimento de pena relativo à catarse.
Percebemos também o temor ao se deparar primeiro com a matança de Egistro que
surrupiou o trono de Agamêmnon e depois com a matança de Clitemnestra, mãe de
Orestes e Electra, a mãe morta pelos próprios filhos. O temor existe, pois,
como os personagens são semelhantes a quem está apreciando a trama,
subentende-se que não é impossível que ocorra o mesmo ao expectador, caso
trilhe nos mesmos rumos dos heróis apreciados.
A
tragédia deve conter também a Transgressão da filia, item que está presente na
Obra. Esse fenômeno se dá quando o personagem mata uma pessoa da qual possui
laços sanguíneos, seja irmão, mãe, tio ou outro grau de parentesco
consanguíneo. Orestes e Electra transgridem a filia ao matarem Clitemnestra,
mãe deles. Segundo a mitologia grega, se uma pessoa mata a outra, seu sangue
deve ser vingado, caso contrário o homicida irá ser perseguido pelos deuses da
justiça.
A
Peripécia, outro componente da tragédia, se dá quando o rumo da Narrativa é
alterado. Na obra, o planejamento de Orestes e Electra de matar a Clitemnestra foi
de uma forma, quando foram cometer o ato, tiveram que mudar os meios para poder
chegar ao objetivo, somente Orestes iria matá-la. Acabou os dois irmão matando
a mãe juntos.
A
hybris se dá quando o herói ultrapassa a barreira do métron, a medida estabelecida
pelos Deuses aos homens. É a quebra ou o pecado do herói. Na Obra Electra, a
hybris se estabelece no assassinato de Clitemnestra por Electra e Orestes. Um
matricídio cometido pelos dois para vingar a morte de Agamênon. Com o efeito da
hybris, o herói se torna inferior aos humanos normais. Após isso, vem o
sparagmos que é a conseqüência do pecado cometido. O herói sofre a conseqüência
de seus atos. No caso de Electra, o sparagmos de Orestes foi fugir e procurar
misericórdia para seu crime. Electra teve como castigo ter que se casar com Pílades
além do remorso.
A
anagnórisis é o reconhecimento. O herói reconhece sua falha, seu pecado e tende
a se arrepender. Orestes e Electra reconheceram que não foi certo derramar o
sangue de Clitemnstra. Antes da matança o ódio os cegou. Após a frieza dos
ânimos, reconheceram que praticaram uma desgraça.
Reconhecemos
também que a tragédia é uma parte da Epopéia. São pequenos fragmentos que usam
o mito para dramatizar uma pequena parte de uma grande narrativa. São pequenos
episódios nos quais não faltam superstições da cultura de um povo. A tragédia
está para a Epopéia assim como a foto está para o cinema.
Nota-se
que Eurípedes não lança mão de personagens divinos em suas peças, mas usa muito
os sentimentos humanos para compor suas obras. Na obra Electra, por
exemplo, nenhum Deus intervém para
alterar o rumo da narrativa, são os próprios homens que cometem ações boas ou
ruins e colhem os frutos de suas escolhas.
Em
suma, a obra nos transmite temor e medo (sentimentos inerentes à catarse). Nela
também podemos contemplar a beleza dos mitos gregos sendo contados e recontados
através dos tempos. Mitos esses que se mantém até hoje vivos no nosso
dia-a-dia. As fúrias representam nossa consciência nos martirizando, nos
inquietando a pedir perdão e a expiar a culpa. O coro representa a opinião da
sociedade, suas críticas, suas sugestões. Um herói necessita pagar o preço de
sua condição, sem o qual não é considerado herói. Para ser grandioso, é mister
se sobressair em momentos difíceis.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. A Arte Poética. São Paulo: Martim
Claret, 2011.
EURÍPEDES. Eléctra. eBooksBrasil: 2005
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