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domingo, 19 de junho de 2016

ANÁLISE LITERÁRIA DA OBRA ELECTRA DE EURÍPEDES



No presente ensaio iremos analisar a obra Eléctra de Eurípedes do ponto de vista da classificação e características literárias. Trata-se de uma tragédia na qual uma princesa e um príncipe vão em busca de retomar seus lugares no palácio real. Trataremos das características da tragédia na obra: O nó, o Desenlace, o Coro, a Hybris e o Sparagmos, a ação, a catarse, a transgressão da filia, a peripécia, e a anagnórisis.
Nas palavras de Aristóteles (2003): “O nó consiste muitas vezes em fatos alheios ao assunto e em alguns que lhe são inerentes; o que vem a seguir é o desenlace. Dou o nome de nó à parte da tragédia que vai desde o início até ao ponto a partir do qual se produz a mudança para uma sorte ditosa ou desditosa;[...]” No caso da obra Electra, o nó vai desde os acontecimentos primários da peça até o momento em que Orestes encontra sua irmã Eléctra, a partir daí já começa a expor a sorte dos personagem da narrativa.
O desenlace é relatado por Aristóteles (2003): “[...] chamo desenlace à parte que vai desde o princípio desta mudança até ao final da peça.” O desenlace, na Obra, vai desde o momento que em Orestes encontra sua irmã até o final da peça, quando Orestes dá seu amigo Pílades em casamento a Electra, após a morte de Clitemnestra, e vai para Atenas sob orientação dos Dióscuros.
O coro deve ser considerado como um dos atores, geralmente era composto por 15 pessoas nas peças de tragédia grega. No caso de Eléctra, o coro se faz presente e conhece os personagens, dá opiniões e análise dos fatos.
A tragédia sempre ocorre com narrativas de pessoas superiores. Entenda-se pessoas superiores como as pessoas mais influentes na sociedade no contexto da história, por exemplo: Reis, príncipes, líderes sociais. Essa superioridade, além de social, também deve ser moral. Os heróis da tragédia são pessoas de boa índole, cortezes, amáveis. Na obra Electra, os heróis são príncipes, Orestes e Electra, que configuram pessoas superiores. As pessoas superiores não precisam ser inatingíveis, inigualáveis, são pessoas sujeitas à mesma sorte de uma pessoa comum.
A Ação da tragédia deve contar apenas um episódio, que se encaminha para o seu fim com tensão, uma boa tragédia não deve ultrapassar mais que uma revolução solar, no máximo duas. Isso é necessário para manter a tensão e atenção do expectador ou leitor à tragédia. Na obra Electra a ação ocorre dentro dos padrões Aristotélicos, na qual a ação é que a morte do Rei Agamêmnon seja vingada. Percebe-se que a obra de Eurípedes segue a linha de raciocínio adotada por Aristóteles. 
Para Aristóteles, o objetivo da tragédia é gerar catarse através da pena e do temor. A Catarse é a purificação dos sentimentos; ao contemplar uma tragédia, o leitor vive o que o personagem está vivendo no momento, geralmente vive sentimentos que não viveria Na tragédia Eléctra percebemos a catarse, por exemplo quando vemos a situação que a mãe de Electra impõe sobre a filha, fazendo-a casar à força com alguém que não amava e morando na miséria longe de seu irmão Orestes, além disso o príncipe foi banido de sua casa paterna e entregue a um amigo de seu pai. Nesses fatos surge no leitor o sentimento de pena relativo à catarse. Percebemos também o temor ao se deparar primeiro com a matança de Egistro que surrupiou o trono de Agamêmnon e depois com a matança de Clitemnestra, mãe de Orestes e Electra, a mãe morta pelos próprios filhos. O temor existe, pois, como os personagens são semelhantes a quem está apreciando a trama, subentende-se que não é impossível que ocorra o mesmo ao expectador, caso trilhe nos mesmos rumos dos heróis apreciados.
A tragédia deve conter também a Transgressão da filia, item que está presente na Obra. Esse fenômeno se dá quando o personagem mata uma pessoa da qual possui laços sanguíneos, seja irmão, mãe, tio ou outro grau de parentesco consanguíneo. Orestes e Electra transgridem a filia ao matarem Clitemnestra, mãe deles. Segundo a mitologia grega, se uma pessoa mata a outra, seu sangue deve ser vingado, caso contrário o homicida irá ser perseguido pelos deuses da justiça.
A Peripécia, outro componente da tragédia, se dá quando o rumo da Narrativa é alterado. Na obra, o planejamento de Orestes e Electra de matar a Clitemnestra foi de uma forma, quando foram cometer o ato, tiveram que mudar os meios para poder chegar ao objetivo, somente Orestes iria matá-la. Acabou os dois irmão matando a mãe juntos.
A hybris se dá quando o herói ultrapassa a barreira do métron, a medida estabelecida pelos Deuses aos homens. É a quebra ou o pecado do herói. Na Obra Electra, a hybris se estabelece no assassinato de Clitemnestra por Electra e Orestes. Um matricídio cometido pelos dois para vingar a morte de Agamênon. Com o efeito da hybris, o herói se torna inferior aos humanos normais. Após isso, vem o sparagmos que é a conseqüência do pecado cometido. O herói sofre a conseqüência de seus atos. No caso de Electra, o sparagmos de Orestes foi fugir e procurar misericórdia para seu crime. Electra teve como castigo ter que se casar com Pílades além do remorso.
A anagnórisis é o reconhecimento. O herói reconhece sua falha, seu pecado e tende a se arrepender. Orestes e Electra reconheceram que não foi certo derramar o sangue de Clitemnstra. Antes da matança o ódio os cegou. Após a frieza dos ânimos, reconheceram que praticaram uma desgraça.
Reconhecemos também que a tragédia é uma parte da Epopéia. São pequenos fragmentos que usam o mito para dramatizar uma pequena parte de uma grande narrativa. São pequenos episódios nos quais não faltam superstições da cultura de um povo. A tragédia está para a Epopéia assim como a foto está para o cinema.
Nota-se que Eurípedes não lança mão de personagens divinos em suas peças, mas usa muito os sentimentos humanos para compor suas obras. Na obra Electra, por exemplo,  nenhum Deus intervém para alterar o rumo da narrativa, são os próprios homens que cometem ações boas ou ruins e colhem os frutos de suas escolhas.
Em suma, a obra nos transmite temor e medo (sentimentos inerentes à catarse). Nela também podemos contemplar a beleza dos mitos gregos sendo contados e recontados através dos tempos. Mitos esses que se mantém até hoje vivos no nosso dia-a-dia. As fúrias representam nossa consciência nos martirizando, nos inquietando a pedir perdão e a expiar a culpa. O coro representa a opinião da sociedade, suas críticas, suas sugestões. Um herói necessita pagar o preço de sua condição, sem o qual não é considerado herói. Para ser grandioso, é mister se sobressair em momentos difíceis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. A Arte Poética. São Paulo: Martim Claret, 2011.
EURÍPEDES. Eléctra. eBooksBrasil: 2005

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